
“Itinerários para uma esquerda democrática é um título que designa, com felicidade, a grande questão que unifica os diferentes artigos reunidos neste livro. Ao refletir sobre a conjuntura política brasileira, os dilemas da América Latina, os impasses do processo da integração europeia, o legado de Gramsci e as grandes transformações que o mundo vive hoje, Alberto Aggio afirma a todo momento a necessidade teórica e política da esquerda democrática. A crítica precisa de outras modalidades de esquerda, do revolucionarismo guevarista à experiência de governo do PT, passando pelas experiências ditas populistas na América Latina e pela apologia teórica dessas experiências serve ao autor para mapear as lacunas, falhas e obsolescências dessas experiências. Não se trata, portanto, de contrapor novas fórmulas às antigas, mas de identificar os temas fundamentais, os itinerários, para a construção de uma esquerda democrática.“
Caetano Araújo
Sociólogo, assessor legislativo do Senado Federal
Em Itinerários para uma esquerda democrática, Alberto Aggio percorre os principais temas que perpassam a realidade brasileira nos últimos anos. Variados, os ensaios são animados por um mesmo espírito que se ancora em uma chave de leitura acerca do processo de modernização vivido pelo país no último século. Tal leitura, influenciada pelo pensamento de Antonio Gramsci, registra que em nossos ciclos de crescimento econômico acelerado jamais fomos capazes de construir uma sociedade moderna.
No início de 2003, a posse de Lula parecia anunciar uma luz sobre nossas angústias. Todavia, uma década mais tarde, as ruas foram tomadas por multidões difusas e insatisfeitas com os rumos da política brasileira. A partir de 2015, essa multiplicidade adquire certa unidade em torno da falência do projeto petista, evidenciada nos últimos meses de 2014.
O início do segundo mandato de Rousseff se apresenta como o anticlímax do petismo, no qual emergem os rombos nos cofres públicos e a reversão programática. Tal cenário se agrava em razão do colapso do modelo de desenvolvimento econômico, uma opção desastrada pelo nacional desenvolvimentismo, que reverteu investimentos estatais na criação artificial dos “campeões nacionais”.
Baseado em fatos, Aggio é capaz de se contrapor decisivamente às narrativas fáceis que compreendem o impeachment enquanto um golpe, apontando que a década petista abandonou a possibilidade de transformar o país, aliando-se ao atraso e nos colocando novamente em nossa encruzilhada diante da modernidade.
O desafio parece ser o de inventarmos novos caminhos que nos possibilitem escapar deste labirinto. A resposta sugerida neste livro reside na construção de uma esquerda democrática, capaz de valorizar a política e promover um reformismo forte, marcado por um desenvolvimento econômico sustentável aliado à igualdade, liberdade e respeito pelo indivíduo. Uma esquerda que quer ser reconhecida enquanto força política relevante no cenário nacional precisa considerar esses itinerários.
Marcus Vinícius F. da Silva Oliveira
Mestre em História pela Unesp