FUI AO ENCONTRO DE DEUS

O cristianismo é uma das poucas religiões proselitistas. Reza a lenda bíblica que Jesus ordenou aos seus discípulos: “ide e pregai o evangelho”. Por isso, de vez em quando você verá algum dito cristão querendo oferecer seu deus para fins de conversão. Isso não acontece no judaísmo, no islamismo ou no candomblé. O grande risco de você ser acordado por alguém com a bíblia na mão te ofertando Cristo é sempre maior que as outras crenças.

Tenho vários amigos religiosos. Quer dizer, a grande maioria é, só que não são tão praticantes assim. Deus é uma espécie de status, ele mostra que você é uma pessoa bacana. Ter espiritualidade, nem que seja de vez em quando, é coisa boa, atesta grandeza. Além do mais , Deus é para toda obra, é “Deus te pague”, “Deus te abençoe”, “Deus está no controle” etc. Cheguei a conclusão que Deus deixa a vida mais chata. Mas deixa isso para outro texto.

O que quero falar aqui é sobre minha visita a uma igreja evangélica. Sim, eu fui visitar um templo protestante. As coisas estavam bem diferentes. Em vez da Cruz, a bandeira de Israel, coisa que muito me impressionou. Mas a pessoa que me convidou, minha amiga Silvia, garantiu que tá tudo na bíblia. Orar por Jerusalém é dever dos cristãos. Novidade pra mim.

Sentei na cadeira à espera da homilia. O pastor que entra fala em línguas estranhas, as pessoas estão em êxtase, uma senhora cai do meu lado estrebuchando. Me ofereci para ligar no SAMU. Outras tantas também caíram. “É o espírito santo”, me explicou Silvia. Quando o pastor deu ordem, todos se levantaram, tipo a brincadeira de vivo e morto.

Gostei da parte das músicas. As canções são bonitas, emocionam e até me trouxeram paz. São mecanismos que acionam nosso cérebro e nos trazem leveza e bem estar momentâneo. Aposto que os líderes religiosos sabem disso, e nesse mundo turbulento que vivemos, nada melhor que canções tranquilizantes. Por alguns minutos pensei em abandonar o Rivotril.

O pastor então começa a pregação. Qual seria o tema do dia? Perdão? Salvação da alma? Caridade? Nada disso. O cara que tava com a bíblia na mão disse que iria ensinar como obter uma vida de prosperidade financeira. “É pirâmide”, pensei. Mas o pastor usava a bíblia, pescava um punhado de versículos e os fiéis anotavam tudo. Tinha cara de igreja. Acho que Silvia não me levaria nessa coisa de marketing de rede, lembro-me de ter dito pra ela que tenho pavor disso.

Fiquei ali escutando. Ele garantiu aos presentes que basta fidelidade a Deus para viver de forma próspera. Pensei nos tantos pobres desse planeta. A culpa não é do capitalismo, é das pessoas que não servem a Deus. Durmam com essa, comunistas mentirosos!

Fiquei com uma dúvida. O que seria de fato servir a Deus? O pastor explica: deixem de fazer tudo que vocês gostam e paguem 10% de seu salário para a igreja. Desculpem, mas foi isso que entendi. O pastor falava que era para deixarmos o mundo, e o mundo ali era sexo, bebidas, baladas, carnaval. “Ah, não…..vou ficar no mundo”, deixei bem claro para Silvia. Foi então que o cara perguntou quem queria aceitar Jesus. “Nem olhe para mim”, disse para Silvia. Quatro ou cinco pessoas se levantaram e foram recebidos na nova fé. Música bonita, palavras de conforto e no fim, o apelo. Genial.

Me despedi de Silva. Na volta para casa pensei no quanto mudaram o Cristo. Na minha época era tudo mais simples. Bastaria ser uma pessoa justa e tomar lado dos mais pobres, assim como agiu Jesus. Mas agora para seguir o homem que numa festa fez água virar vinho teríamos que abandonar as festas e o vinho. Eu hein!

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