É PRECISO COMPREENDER A EXTREMA DIREITA ATUAL

Donald Sassoon, historiador inglês, lançou recentemente um livro, Sintomi Morbosi – nella nostra storia di ieri i segnali dela crisi di oggi (Garzanti, 2019), que merece pelo menos um comentário sobre uma de suas observações. A intenção desse comentário é também a de chamar para a reflexão sobre a situação brasileira frente à administração de extrema direita comandada por Bolsonaro.

Viktor Orbán e Jair Bolsonaro

No final do segundo capítulo no qual discute a xenofobia presente em diversas partes do mundo, em especial na Europa, ele registra uma opinião que merece nossa reflexão, especialmente quando entre nós proliferam análises ligeiras (e interessadas) que falam de um impeachment de Bolsonaro ou conclamam uma união de todos contra o “monstro”, vocalizada especialmente por petistas do tipo Celso Rocha Barros, dentre outros. A falta de rigor na análise é o ponto critico observado pelo autor.

Para Sassoon, “hoje os partidos xenófobos de extrema-direita não são ‘antidemocráticos’. Não desafiam a democracia nos termos em que ela está convencionalmente definida. Não sustentam que a democracia (isto é, eleições, parlamento, etc.) seja um mal, não do mesmo modo que falavam Mussolini e Hitler nos anos vinte e trinta do século passado, ou nos termos nos quais no mesmo período (e em alguns casos também mais tarde) os partidos comunistas descreviam a democracia ‘burguesa’ como inferior à ‘ditadura do proletariado'(p.73)”.

Creio que é preciso pensar nisso para evitar todo anacronismo que por vezes se apresenta na nossa situação atual. Opor-se a Bolsonaro é um posicionamento absolutamente legitimo e correto, pelo absurdo que ele representa e pelo desastre que tem sido a sua passagem pela Presidência da República. Contudo, unir-se a Lula e ao PT, sem que pelo menos um deles faça uma severa autocritica da sua trajetória em benefício da nossa República e da nossa democracia, trata-se de algo necessário, sem o qual recomeçaremos mal a reconstrução do nosso ambiente democrático.

Não haverá golpe contra a democracia no Brasil simplesmente porque isso não faz parte da estratégia de Bolsonaro ou pelo menos essa possibilidade ficou suspensão depois que a resistência a sua “guerra de movimento” contra as instituições da República se mostrou forte e eficaz, obrigando-o a mudar de tática.

A democracia deve ser defendida permanentemente e não apenas quando petistas dizem que ela está ameaçada. Isso é um engodo, na boca deles. Embora seja verdade nas torpes declarações de Bolsonaro.

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Últimos comentários
  • Você acha que uma autocrítica vai redimir o pt e o lula, tornando-o alguém aceitável para a presidência da repúblca? O povo não pensa assim. Essa gente está anos luz distante do povo.Se não aparecer nenhum candidato para substituir o Bolsonaro em 2022 ele srrá reeleito. Não porque ele seja o melhor, mas a unica opção de decência para nós, povo. Pt e lula nunca mais!!!

  • Concordo com sua avalição o conjunto de forças de centro e esquerda deve centrar sua oposição no desastre das medidas que o governo Bolsonaro vem implementando em especial no enfrentamento da pandemia..Essas medidas geram graves problemas para as pessoas para a economia,para o meio ambiente….estes são os problemas reais neste governo, as acusações de golpismo tem um apelo em alguns setores da classe media mas não ganham eleição.
    quanto a autocritica de lula sem dúvida seria importantissima em especial se não fosse retórica.nas minhas elucubrações fico imaginando que a aliança desses setores de centro e esquerda teriam na senadora simone tebet uma ótima alternativa.
    Acabo de perceber que meu teclado está com algum problema pois so fica em caixa alta,desculpe

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